Se o crescimento do ser humano está diretamente ligado à capacidade de aprender com as lições dos momentos mais difíceis, passada a revolta e o desabafo após o “caso X-9″, Bruno deve ter deixado mais aguçada aquela que garante ser uma de suas principais características: a fidelidade. Sem medir as palavras, o goleiro do Flamengo agradece aos colegas que o futebol lhe deu, mas deixa claro que amigos de verdade só tem dois: Luís Henrique, o Macarrão, e Luciano, o Lulu.
Durante a estada do Flamengo em Belo Horizonte para a partida contra o Cruzeiro, o GLOBOESPORTE.COM foi atrás da dupla. Maiores incentivadores de Bruno, Macarrão e Lulu mostraram o caminho que o goleiro fez dos campos de terra em Ribeirão das Neves, na Grande BH, até se tornar em um dos grandes ídolos da maior torcida do Brasil nos últimos anos.
- Grandes amigos que tenho e passamos por muitos momentos difíceis. São os companheiros que amanhã ou depois vou levar sempre comigo. Luciano é pai de família, um cara responsável. E o Macarrão está ao meu lado para o que der e vier. Se eu jogar na Europa um dia, vai me acompanhar. Eu ainda peço: “quero que você me xingue, estou fazendo a coisa errada”. Mas ele vem na base da conversa. E isso que é amizade de verdade – deu a dica o camisa 1 rubro-negro.
Mais do que amigos, Macarrão e Lulu sempre foram os protetores. Desde a infância, no campinho de terra batida chamado “Buracão”, localizado em um terreno baldio e apelidado por ser em um nível abaixo o da área residencial do local. Depois de peregrinar por regiões pobres da capital mineira com a avó – que ele considera a verdadeira mãe – Estela e o avô Roberto, Bruno se fixou em Ribeirão das Neves aos sete anos. Entre uma tentativa ou outra de ser atacante, acabou parando no gol.
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- A gente sempre viu que ele era diferenciado. Aqui no Buracão foi onde tudo começou. O Bruno gostava de jogar do meio para frente, queria fazer teste para o Galo como lateral, mas a gente falou para ele que dava mais certo no gol. Logo nesse treino ele pegou 16 pênaltis de 18 que foram cobrados, um foi para fora e só um foi gol – garante Lulu.
Galinhas ’somem’ e viram dinheiro para passagem
Com ele, por sinal, Bruno tem uma espécie de dívida ilegal. Quando ainda tentavam a sorte nas categorias de base do Atlético-MG, Lulu e Bruno por vezes deixavam de treinar por faltar dinheiro para a condução. Nada que arrumar uma “companheira” para o Galo não resolvesse.
- Às vezes eu chamava o Bruno para ir treinar e ele dizia: “Como rapaz? Não tenho dinheiro”. Eu respondia: “Vamos embora que as galinhas da velha renderam bem”. Depois minha mãe perguntava onde estavam as galinhas e eu ainda perguntava: quem será que roubou? – recorda aos risos.
- Até hoje o Luciano brinca comigo porque ele vendia galinha escondido da mãe dele para poder me dar dinheiro. O Macarrão trabalhava no Ceasa e me dava uma grana para eu poder treinar. E hoje eu reconheço isso e tento ajudá-los da melhor maneira possível – emenda Bruno.
O fiel escudeiro, no entanto, é Macarrão. Responsável pela administração do sítio do goleiro em Ribeirão das Neves, ele recorda quando conheceu o amigo, há dez anos. Na época, teve de administrar a faceta “durona” de Bruno: a de treinador de goleiros.
- Quando foi mandado embora do Cruzeiro pelo Ney Franco, o Bruno resolveu que não ia jogar mais futebol e veio ser nosso treinador de goleiros no projeto Toriba. Ele sempre foi muito determinado. Só pensava em trabalhar, trabalhar, trabalhar… E o pessoal só queria olhar para as meninas. Fico até emocionado de voltar a este campinho. Passamos muita coisa boa aqui. Vínhamos por causa do suco, do leite com achocolatado, mas valia muito a pena. O Bruno merece estar onde está porque sempre foi muito determinado e diferenciado – recorda ao falar do Projeto Toriba, na escola Caic, em Ribeirão das Neves.
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A lembrança também é compartilhada pelo ex-treinador e atual camisa 1 do Flamengo.
- O que não esqueço é quando a gente se reunia no projeto Toriba que o governo fez. Me lembro que a gente saía cedo, 7h, e se reunia e ia para o treino. A parte mais engraçada era aquela zoação, de um brincando com o outro. Chegava lá, tinha que tomar café lá porque não havia nada para comer em casa. Um pegava o biscoito do outro – endossa Bruno.
Mais do que amigos, fãs de carteirinha
Chamado pelo rubro-negro de irmão, Macarrão se divide entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, onde acompanha de perto a carreira do ídolo. “Goleiro frustrado”, ele se realiza ao ver o amigo defendendo um dos maiores clubes do Brasil e não esconde o lado fã.
- Guardo todas as camisas que ele joga. Tenho algumas que nem ele tem e tenta me comprar. Mas não tem preço – diz orgulhoso, que tem como relíquia uma camisa branca dos tempo de Atlético-MG, a camisa de final do Estadual de 2007 e a do centésimo jogo pelo clube.
Referência em Ribeirão das Neves, mesma terra do tricampeão mundial com a seleção brasileira Piazza, Bruno é o espelho para familiares. Serginho lembra uma das primeiras coisas que o primo fez, quando ainda estava na base do Galo.
- Logo quando começou ele fez questão de fazer uma reforma na casa e melhorar a condição de vida.
Realizado no futebol, Bruno vai à terra natal anualmente para realizar uma festa de fim de ano. Nada, no entanto, que diminua o carinho dos amigos por ele.
- Muito sucesso aí, cara. Você merece – faz questão de desejar Lulu.
- Você é meu ídolo – reforça Serginho.
Macarrão, entretanto, é mais sucinto:
- Te amo!
Duas palavras que mostram a força de relação de Bruno com aqueles que o “mandaram para longe” de Ribeirão das Neves, onde ele não precisou, desde o princípio, de combater qualquer “X-9″.
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